A partir da obra de Bertolt Brecht, Luís Mário Lopes escreveu o solo A Boa Alma para Mónica Calle em 2015, marcando a saída do Cais do Sodré da Casa Conveniente e a chegada ao novo espaço na Zona J de Chelas. A música original é de JP Simões.
De março a maio, Mónica Calle apresenta no Teatro São Luiz sete solos emblemáticos da sua carreira. O título Este é o Meu Corpo refere-se ao corpo de trabalho de Calle, bem como ao seu corpo físico, um dos principais motores e eixos de criação. Com este gesto, a atriz procura uma atualização dos diferentes espetáculos – que traduzem as suas principais linhas artísticas –, e uma possível reflexão sobre o seu percurso. “O teatro, património imaterial, feito de eventos efémeros que apenas podem subsistir na memória de quem a eles assiste ou, quando muito, na memória secundária de quem deles ouça ou leia um relato (ou veja imagens, fixas ou em movimento, que são sempre e apenas um auxiliar), tem aqui a possibilidade de ser revisitado e repensado”, nota Mónica Calle. Cada um destes solos corresponde a momentos decisivos do seu percurso, momentos de descoberta, de investigação, de rutura, de novos inícios. “Esta é também uma defesa e uma afirmação de que o trabalho artístico não acontece de forma fragmentada, mas, pelo contrário, é o resultado de um passado que se mistura no presente para poder continuar no futuro”, afirma. Apresentando em continuidade os diferentes solos, permite-se a colocação dos mesmos em confronto e diálogo, produzindo novas e diferentes leituras. Por outro lado, permite-se ao público ter acesso à linha de pesquisa que a criadora tem desenvolvido ao longo dos últimos 28 anos.
“Este é o meu corpo. Entre a afirmação e a pergunta. Sim, este foi o meu corpo. Estes trabalhos a solo foram o meu corpo – o meu corpo físico, pessoal, artístico – ao longo de 28 anos. Mas também são um corpo coletivo, inscrito em diferentes circunstâncias e contextos, contextos sociais, políticos e artísticos, e podem contar também essa história. Acredito que a criação artística tem consequências na vida de todos nós, assim como acredito que as nossas ações pessoais têm essa mesma expressão. Acredito que o dever dos vivos é lembrar os mortos, tal como acredito que o dever da arte é dar voz a todos aqueles que não a têm. Acredito cada vez mais, de forma convicta e consciente, na ideia de Deus. E por isso acredito cada vez mais que o mais frágil, o mais perecível, o único e individual tem de ser protegido. Mas será ainda este o meu corpo? Não sei. E que corpo pode ser este que continua a procurar-se através do trabalho? Que corpo poderá vir a ser? É esta a razão primeira que me leva a unificar trabalhos que foram realizados fragmentadamente ao longo de 28 anos da minha vida: encontrar-me na relação com os outros, neste privilégio que é a criação artística e continuar a viver cheia de espanto.”
Mónica Calle