O Teatro São Luiz faz sessão dupla com dois espetáculos do coletivo Dançando com a Diferença: Blasons, de François Chaignaud, estreado em 2022, e Doesdicon, criado por Tânia Carvalho em 2017. Blasons remete para os brasões (Blasons) conhecidos como símbolos heráldicos que caracterizam uma família, uma cidade ou uma organização, mas também para os poemas com o mesmo nome, que surgiram em meados do século XVI em França. E explica-se assim: “Em torno de Clément Marot, um grupo de poetas da corte comprometeu-se a brasonar partes do corpo feminino, ou seja, observá-las, descrevê-las e elogiá-las. Esses brasões – dedicados à garganta, aos lábios, à sobrancelha, ao pé ou ao mamilo – deram depois origem aos contrabrasões, seus homólogos satíricos e críticos. Esses brasões literários – contemporâneos dos avanços da dissecação anatómica – oferecem um pacto inédito e inquietante entre perceção, objetivação e estetização. O corpo do outro – o corpo do brasonado – torna-se campo de observação – divisível e apropriável; o brasão coloca-o num pedestal, tanto quanto o esvazia da sua humanidade. Historicamente, o brasão literário é, portanto, a expressão do privilégio daqueles que descobrem e consideram o mundo e os outros como sua posse, de um ponto de vista superior. Com os artistas da Dançando com a Diferença, comprometemo-nos a recuperar esta dinâmica do brasão – e revertê-la. Os bailarinos não são mais os corpos estranhos, magníficos ou curiosos que passamos a observar e esquadrinhar – eles oferecem-se para nos mostrar a sua maneira de brasonar o mundo, ou seja, de olhar o público para dançar um elogio ou uma sátira. O brasão torna-se então um ato de empoderamento, através do qual se recupera a legitimidade da própria perceção. É também uma forma de aproximar as noções de soberania, ornamentação e representação aos seus limites grotescos.”
Já sobre Doesdicon, escreve a coreógrafa: “Composição para desenho de movimentos fixos, não rígidos. Trabalho dos contrastes rítmicos do corpo em deslocação ou não. Passa uma pessoa… Mas não. São mais pessoas. Uma aqui, outra mais ali. E aquela? Não estava ali antes. Ou estava? Estava fixa num ponto e não a vi antes. Os movimentos fixos são depois libertados. Não contra estes mesmos movimentos. Não para os apagar, mas para os estender a. Já ali passou mais alguém…”
Blasons + Doesdicon
FRANÇOIS CHAIGNAUD + TÂNIA CARVALHODANÇANDO COM A DIFERENÇA
19 a 21 setembro
quinta a sábado, 20h (sessão dupla)
Sala Luis Miguel Cintra
€12 a €15 com descontos | Abrangido pelo Passe Cultura - disponível apenas na bilheteira do Teatro
M/6
21 setembro, sábado, 20h
Descrição
Ficha Técnica
Blasons : Coreografia e direção François Chaignaud Assistente de criação José Gregório Rojas Intérpretes Bárbara Matos, Bernardo Graça, Joana Caetano, Mariana Tembe, Milton Branco, Sara Rebolo, Sofia Marote, Telmo Ferreira Desenho de luz Abigail Fowler Figurinos Henrique Teixeira Coprodução Théâtre de La Ville-Paris – Festival d’automne/Paris; Teatro Municipal do Porto – Rivoli. /// Criação integrada na temporada França – Portugal 2022 Doesdicon : Coreografia e direção Tânia Carvalho Música Diogo Alvim Voz Tânia Carvalho, a partir de Lumi Potete Piangere, de Giovanni Legrenzi Figurino Aleksandar Protic Intérpretes Bernardo Graça, Diogo Freitas, Isabel Teixeira, Joana Caetano, Maria João Pereira, Luís Guerra, Sara Rebolo e Telmo Ferreira Desenho de luz Tânia Carvalho e Maurício Freitas Coprodução Dançando com a Diferença e Teatro Viriato Dançando com a Diferença : Direção artística Henrique Amoedo Dançando com a Diferença / Viseu – Coordenação geral Ricardo Meireles Monitores de dança / Ensaiadores Mariana Tembe, Milton Branco e Telmo Ferreira Produção Executiva Nuno Simões Produção Bia Barros, Cláudia Nunes, Francisca Jácome Lima, Milton Branco Apoio técnico Bia Barros Comunicação Cuca Calheiros Difusão nacional Marco de Barros /// A Companhia Dançando com a Diferença é uma estrutura financiada por República Portuguesa – XXIII Governo / Direção-Geral das Artes (2023 – 2026), Governo Regional da Madeira e Câmara Municipal do Funchal. É companhia residente no MUDAS. Museu de Arte Contemporânea da Madeira e projeto residente no Teatro Viriato, em Viseu. Apoios PortoBay – Hotels & Resorts e Júlio Silva Castro – Fotografia, Vídeo e Publicidade