A partir de um convite da Arts Over Borders, líder do projeto Ulisses: uma odisseia europeia, Marco Martins apresenta uma peça que parte desta obra de Joyce, inspirada na Odisseia de Homero, em que se celebra o comum, o quotidiano e os pensamentos que preenchem continuamente a mente humana, a partir do que acontece em 24 horas a um herói do dia-a-dia. Realizador de teatro e cinema com uma longa carreira e experiência de trabalho com comunidades específicas de não-atores, Marco Martins tem-se interessado por extensos processos criativos nos quais parte de experiências de vida e histórias individuais para chegar a objetos artísticos em que estas histórias se tornam de todos, ecoando através de um resultado além da soma das partes. O binómio velho/novo, de enorme importância na vida de cada um, apela a questões básicas como a ancestralidade, a transformação, o apoio, a valorização e a sabedoria, que embora muitas vezes invisíveis ou desprezadas, estão cada vez mais presentes. A possibilidade de encarar o envelhecimento da população como uma crise ou uma oportunidade está intimamente ligada à questão da memória e do que é importante preservar ou inventar. O capítulo atribuído a Lisboa decorre num abrigo, pelo que Marco Martins volta a trabalhar com um elenco não profissional para criar uma peça que parte das circunstâncias e experiências de um grupo de jovens que vivem em instituições de acolhimento, longe das suas famílias. O autor propõe uma releitura da obra de Ulisses em que o regresso a casa (lar), de Bloom, e a sua odisseia de 24 horas pelas ruas de Dublin ganha uma nova dimensão.
Neste espetáculo usa-se luz estroboscópica.