Poderá tratar-se apenas de uma ideia feliz de produção: juntar num palco, de mãos dadas, três Glórias mais ou menos escondidas da mais antiga prática do Fado e um dos mais jovens e poderosos herdeiros da velha tradição bairrista de Lisboa, e deixá-los cantar a Saudade, a Perda, e ainda e sempre o Amor! O fascínio de um cantor da tradição quase perdida do fado romântico, a voz mais grave da noite de Lisboa, Alcindo de Carvalho. A inacreditável técnica de uma Mulher, de todas a mais idosa, cuja discrição, inteligência e cosmopolismo, só recentemente aplaudida por muito mundo, a mantiveram tantos anos escondida atrás de um apelido fantástico – Celeste Rodrigues. A incandescente orientalidade de uma fadista que alia o castiço ao místico, com requebros e vocalizações líricas, desde 1994 finalmente revelada ao público de muita Europa e às cenas maiores dos teatros portugueses – Argentina Santos. A surpreendente ênfase lírica, de uma voz portentosa da escola das Casas do Fado (e só dela!) – Ricardo Ribeiro.
Podia ser só isto, mas é mais – é o Palco que vai ao encontro do Fado “tal como era cantado” antes de se ter tornado espectáculo; ao encontro do Pranto, por essa voz que nos foge como o tempo, e da vitalidade de intérpretes que resistem e se rejuvenescem. E isto tudo numa espécie de “Teatro”, pela mão de um encenador que, desde 1994, persiste em dar ao Fado a mesma dignidade cénica que se confere a qualquer outra forma de Drama.
Celeste Rodrigues, nasceu 14.3.1923
Argentina Santos, nasceu 6.2.1926
Alcindo Carvalho, nasceu 9.1.1932
Ricardo Ribeiro, nasceu 19.8.1981\