Cochinchina é uma adaptação livre da obra de Afonso Cruz, Princípio de Karenina. Vem encerrar uma trilogia de cartas de amor e morte que Sandra Barata Belo iniciou com Morreste-me, de José Luís Peixoto, seguindo-se Carta de uma Desconhecida, de Stefan Zweig. Além de serem cartas que nos falam de amor e de morte, estas criações têm em comum o facto de serem obras literárias que a atriz adaptou para teatro.
Nesta trilogia há uma inquietude ao falar da vida, destes sítios aparentemente estáveis onde nos arrumamos, onde guardamos o passado, onde o presente é frágil e mal se sente. A dualidade é constante, o pensamento também e o futuro chega antes do tempo. E quando já não temos tempo, chega-nos inesperadamente uma carta, chega-nos inesperadamente a morte. Cedo demais, tarde demais.
Um homem vive na dualidade entre o que está dentro da sua porta e para lá dela. O estrangeiro tanto o inibe, como o fascina. Até ao dia em que uma empregada da Cochinchina vem trabalhar para sua casa e quebra todas as fronteiras criadas, primeiramente pelo pai e depois por ele. A partir daqui, há uma luta constante entre o amor e a desilusão, a coragem e a cobardia, entre ir ou ficar, e estranhamente está tudo certo.
No fim da sua vida quando não há mais para adiar, restando-lhe apenas a morte, parte para o Oriente em busca de uma filha que nunca o irá conhecer e escreve-lhe uma carta, revelando a sua história, que é também a base do nosso Portugal em contrários e com os seus antónimos.