“Quero alegria, a melancolia me mata aos poucos”
Clarice Lispector in A Via Crucis do Corpo
A voz de Cristina Branco é uma voz nómada. Assim que se sente demasiado confortável, parte à procura de um novo poiso, uma nova pele. Quem diz pele diz novos contextos, novos significados musicais, novos desafios. O desconforto parece quase um mote na carreira da cantora; Cristina Branco não o procura mas encontra-o invariavelmente, coloca-lhe questões que tem de responder de imediato em nome da curiosidade, da ânsia de descobrir a verdade, por querer testar os seus limites a cada capítulo que acrescenta à sua já extensa discografia. Um desassossego que está presente desde o início: foi assim com Ulisses, foi assim com Abril, foi assim com Não há só Tangos em Paris e, para não variar, é-o agora mais uma vez com Alegria.
Em Alegria, Cristina Branco quis vestir a pele de doze personagens, ajustando o seu ser individual ao social, usando a música como escudo e como arma, procurando respostas para os tempos conturbados que cruzamos. Essas personagens são os vizinhos do lado, os que moram mesmo dentro da nossa casa, os que habitam o nosso pensamento. Somos nós; doze personagens onde nos podemos rever continuamente. Vamos conhecê-las, ao vivo, em cada concerto.