No início dos tempos, do mundo e da história, os deuses reinavam solitários. Depois a vida aconteceu, tal como acontece aos humanos, e tiveram as suas batalhas – ganharam algumas perderam outras – apaixonaram-se, casaram, descasaram, foram pais, irritaram-se, fizeram as pazes, perdoaram… Directamente do Monte Olimpo e dando a voz aos pais de todos os deuses construímos uma árvore genealógica divina. Recuperando histórias antigas que reverberam ainda em nós e de alguma forma constroem ainda os nossos sonhos: Afrodite continua a nascer da espuma, Demeter procura a sua filha e Hades reina solitário. Em Dos Deuses, cria-se uma espécie de dicionário vivo, mostrando, uma vez mais, o incrível poder dos verdadeiros clássicos, histórias que nunca param de nos sussurrar ao ouvido e que acabam por nos construir, por nos mudar e por nos fazer crescer.
Há muito que o tema do universo clássico acompanha o trabalho de Leonor Barata. Em 2008, estreou Fios e Labirintos, uma produção com O Teatrão sobre o mito de Teseu e Ariadne, e, em 2006, Ver a Odisseia para chegar a Ítaca, a partir de Odisseia de Homero. Agora, em Dos Deuses, procura contar o início do mundo como o conhecemos dentro do paradigma clássico: a criação da Terra e da Noite, a luta dos Titãs, a presença das Moiras, até chegar à terceira geração divina, que tem já forma humana e que vive os seus dramas no Olimpo, mas que, com cada ação e com cada contrariedade, domina os Homens e os seus destinos.