Um espetáculo estetica e politicamente provocador, com uma manipulação prodigiosa, hilariante, poético e ousado, que é uma ode à liberdade e ao amor, e é um dos grandes destaques do FIMFA Lx24. A nova criação de Johanny Bert lança um olhar sensível e cheio de humor sobre a pluralidade das nossas práticas sexuais e amorosas, inspirando-se na peça A Ronda, de Arthur Schnitzler, censurada em 1897 pela sua abordagem às relações eróticas. Yann Verburgh reescreveu totalmente a obra, com base na estrutura original: histórias entrelaçadas de encontros íntimos.
As marionetas hiper-realistas são manipuladas à vista por uma equipa de jovens atores, que acabam por se tornar numa única entidade viva com as suas marionetas de látex. A diversidade dos corpos pretende refletir a pluralidade dos seres e das vidas, reunidos neste mosaico de histórias poderosas e comoventes. A encenação coral e cinematográfica permite passar de um encontro para o outro, revelando o que nos une nas nossas diferenças: o amor, muito simplesmente.
Após o sucesso de HEN, em que Johanny Bert arrebatou o público com a sua diva-marioneta furiosa e viril, num espetáculo ao estilo de um cabaré berlinense dos anos 30, fundido com a cena queer (e apresentado no FIMFA Lx22), não é de surpreender que se tenha agora inspirado na peça censurada de Arthur Schnitzler, e leve os amantes numa alegre e sensual ronda contemporânea. Johanny Bert continua a explorar as identidades sexuais numa série de encontros amorosos que deixam o campo aberto a todas as possibilidades: bissexualidade, poliamor, assexualidade, amor transgénero… Nesta valsa de amor, os casais fazem-se e desfazem-se entre as personagens desta La (Nouvelle) Ronde de diferentes idades, mulheres, homens ou não-binários.
“Uma ronda contemporânea de desejos e de amores, como um novo ‘mapa da ternura’ extravagante, com liberdade e humor.
A Ronda heterossexual de Arthur Schnitzler não perdeu a sua força dramática, mas hoje em dia deve ter em conta a diversidade de identidades e práticas amorosas e sexuais que surgem na atualidade. Graças às extraordinárias marionetas de Johanny Bert, os transexuais, os bissexuais, os poliamorosos e os assexuais podem fazer ouvir a sua voz com toda a liberdade de expressão e de ação. Todos eles exprimem o seu profundo desejo de existir e florescer sem estarem sujeitos a regras morais e normativas ultrapassadas. Entre o confronto e a sedução, a ambiguidade e a verdade, a fantasia e a poesia, esta ficção teatral é sobre o amor.”
-Jean-François Perrier
“Parlez-moi d’amour… Johanny Bert vai diretamente ao cerne da questão com a sua surpreendente variação da peça de Arthur Schnitzler (1903), considerada sulfurosa pelos antissemitas da época. Num tapete rolante que percorre todo o palco, com todo o tipo de cenários, os amantes encontram-se, sejam eles heterossexuais, poliamorosos, libertinos, bissexuais, homossexuais, transgéneros, não binários…
Todos libertos de constrangimentos morais, hierarquias sociais e de questões de género. Esta ronda contemporânea de novas formas de amar, acompanhada pela vibrante guitarrista Fanny Lasfargues, exibe uma força estética incomparável, com marionetas cuja textura faz lembrar os corpos pintados por Lucian Freud, e um domínio técnico que estabelece definitivamente Johanny Bert como o marionetista mais inventivo e ousado da sua geração. A sua obra é política, poética e divertida.”
-Thierry Voisin, Télérama
“Depois do seu excelente cabaré marionetístico HEN, Johanny Bert continua a sua pesquisa em torno da identidade de género e do amor com La (nouvelle) ronde (…). Numa reescrita muito livre e com humor de Yann Verburgh (…) homens e marionetas elaboram um inventário vivo e delicado, embora não exaustivo, das formas contemporâneas de amar.
Eis um espetáculo sobre o género que não se leva demasiado a sério. Apesar de ser muito sério e de exprimir uma consciência plena do que está em jogo, La (nouvelle) ronde de Johanny Bert está muito longe do tom professoral ou militante adotado por muitas das produções dedicadas às questões de género que apareceram recentemente nos nossos palcos. A marioneta tem muito a ver com esta distância (…).
Tal como HEN, cujo protagonista central mudava constantemente de um género para outro, transformando-se a si próprio, La (nouvelle) ronde retoma uma espécie de tradição antiga na arte da
marioneta, que consiste em questionar o sexo das marionetas. Aqui, é a marioneta que questiona a sexualidade do homem e, mais amplamente, a sua identidade. A escolha de La Ronde, de Arthur
Schnitzler, como ponto de partida para esta exploração é particularmente acertada (…).
Esta (nouvelle) ronde é uma delícia de assistir, com as suas invenções formais e, em particular, a sua utilização de mudanças de cenário que lembram o trabalho de Ariane Mnouchine em Les Éphémères. Tudo nesta peça desliza com uma fluidez elegante, desde a cenografia à identidade sexual e ao amor. O amor é por vezes entre duas pessoas, por vezes entre várias, por vezes entre pessoas do mesmo sexo, por vezes entre indivíduos de géneros diferentes ou não-binários… Esta grande variedade não impede que cada protagonista exista de uma forma muito forte (…)
Esta (nouvelle) ronde é um deleite, uma grande dança de amor e liberdade.”
-Anaïs Heluin, sceneweb.fr
“Revelado no off do Festival d’Avignon há três anos com o seu brilhante espetáculo HEN, Johanny Bert é o inventor de um deslumbrante teatro de marionetas queer. Da tradição do teatro de marionetas provém um amor sincero pelo teatro popular no sentido mais nobre do termo, bem como uma visão mais metafísica da (des)construção de si e da liberdade. Aqui, esta herança é posta ao serviço de uma reinvenção total das identidades de género e sexuais, dos corpos e dos afetos (…).
Celebrando o amor em todas as suas formas, o espetáculo não é apenas extraordinariamente hilariante, mas também admiravelmente inteligente do ponto de vista político e extremamente
inventivo (…).
Acompanhados por uma guitarrista ao vivo, os seis atores-marionetistas dão vida a esta Ronda que, para além de celebrar e representar a multiplicidade das identidades queer, é acompanhada por uma reflexão ontológica sobre a marioneta e o teatro documental. Com esta nova criação, Johanny Bert atinge um nível que o coloca entre os jovens encenadores mais destacados da cena francesa.”
-Bruno Deruisseau, Les Inrocks
“La (nouvelle) ronde de Johanny Bert – Cie Théâtre de Romette é a continuação do ciclo iniciado com o aclamado HEN. Baseado num texto encomendado ao talentoso Yann Verburgh, é uma nova bomba para fragmentar as proibições, sob a forma de uma alegre ode às múltiplas identidades e ao amor desinibido, servida por uma sumptuosa cenografia e marionetas inventivas (ou o inverso). Tão delicioso, quanto político (…). Inteligência afiada e humor devastador (…).
Um deleite visual, cénico e de marionetas
Esta proposta tentadora é servida por um espetáculo formalmente magistral, repleto de boas ideias, talvez nem todas originais, mas utilizadas com grande eficácia e competência. As marionetas são obviamente o centro das atenções. São de uma perfeição ímpar: cerca de sessenta centímetros de altura, o suficiente para serem vistas num grande auditório sem serem tão pesadas que não possam ser manipuladas sozinhas ou aos pares, e com rostos extraordinariamente expressivos. Do ponto de vista visual, são um êxito total, e a fluidez com que são manipulados reflete também um excelente domínio da sua construção, enquanto instrumentos de interpretação.
A cenografia, de Amandine Livet e Aurélie Thomas, também é um sucesso (…). Os cenários, cuja escala está em consonância com a das marionetas, são muito bem executados, até mesmo muito bonitos, sobretudo porque são muito bem valorizados pelo trabalho de luz: basta pensar na cena das casas de banho de um clube noturno para ter uma ideia (…). A música tocada parcialmente ao vivo pelo músico, com os seus riffs de guitarra elétrica, ora sensuais, ora furiosos, é um excelente acompanhamento do espetáculo no seu todo (…).
Em conclusão, la (nouvelle) ronde é um espetáculo extremamente inteligente, muito bem escrito e apoiado por um elenco de jovens atores talentosos. É de notar que esta última escolha faz parte da inteligência do espetáculo: ser interpretado pela geração de homens e mulheres que estão realmente a viver esta fragmentação do quadro patriarcal é colocá-los no lugar do condutor – um pouco – ao mesmo tempo que os honra (…).
Um espetáculo utópico cujo lema poderia ser: “Se tivermos coragem de sermos nós próprios, podemos mudar o mundo”. Um belo aforismo para uma obra que nos convida a aceitar que o amor se
reinventa.”
-Mathieu Dochtermann, Toute la Culture
BIO
Johanny Bert é ator, marionetista e encenador. Ao longo do seu percurso artístico desenvolveu uma linguagem teatral singular: o confronto entre o ator, o objeto e a forma marionetística. Cada criação é uma nova pesquisa, a partir de textos contemporâneos (encomendas, textos inéditos ou textos de repertório) ou de um universo plástico construído em equipa no palco. Gosta de trabalhar com intérpretes de diferentes disciplinas (atores, bailarinos, cantores, músicos, etc.). Certas dramaturgias orientam-no para um diálogo entre o humano e o inanimado, como nas artes da marioneta, mas não quer estar limitado a uma categoria: teatro para jovens, teatro visual, teatro de marionetas… e cria por intuição, com uma forma de liberdade insolente, guiada por um objetivo.
Fundou a companhia Théâtre de Romette em 2000, um espaço experimental de criação para atores e marionetas. Entre 2012 e 2015, dirigiu o Centre Dramatique National de Montluçon – Le Fracas e em 2016 retomou ao trabalho de criação. De 2016 a 2018, foi artista associado de Clermont-Ferrand.
Entre as suas produções mais recentes destacam-se La (Nouvelle) Ronde, estreado no Théâtre de la Ville, HEN (2019), apresentado no FIMFA Lx22, Le Petit Bain (2017) no Théâtre Nouvelle Génération – CDN de Lyon e Dévaste-Moi (2017) com Emmanuelle Laborit em coprodução com IVT – International Visual Theatre. Em outubro de 2019, encenou Les Sea Girls au pouvoir, um espetáculo musical feminista singular. Em 2020, criou Frissons para o Théâtre Sartrouville Yvelines CDN/Festival Odyssées en Yvelines, um novo texto de Magali Mougel, depois dirigiu La Princesse qui n’aimait pas… para a atriz Caroline Guyot (Barbarque Cie). Johanny Bert foi artista associado de Le Bateau Feu – Scène Nationale Dunquerque, entre 2018 e 2021. Em outubro de 2020, criou Une Épopée contemporânea para o público jovem. Recebeu uma encomenda da SACD e do Festival d’Avignon no programa Vive le Subject em 2020. Criou Le Process para adolescentes, com texto de Catherine Verlaguet. Em dezembro de 2023 dirigiu a sua primeira ópera na ONR Opéra National de Rhin, a convite de Alain Perroux, e encenou A Flauta Mágica. Em fevereiro estreou a primeira fase de Fucking Eternity – Oratorio débridé pour un Ange, e prepara a segunda fase deste projeto para outubro de 2024.