O Livro XI das Confissões de Santo Agostinho constitui-se como um dos livros mais emblemáticos da chamada segunda parte das Confissões (Livros X-XIII). Aí, a perspetiva do autor não é memorialista e autobiográfica, mas genológica, i. e., sobre o ato da narração do passado na primeira pessoa e do compromisso de verdade possível com essa narrativa ou confissão, considerado o funcionamento complexo da memória e a coragem e estultícia de sobre nós falarmos a quem sobre nós e sobre tudo mais sabe, e ensaística, ou seja, centrada no debate interno de questões teológicas e filosóficas. A dificuldade da elaboração destas questões, cujos destinatários são o “Senhor” ou a “alma”, pode ser grosseiramente localizada no problema entre a comensurabilidade e finitude humanas e, por consequência, da sua inteligibilidade, compreensão e comunicação, e a incomensurabilidade divina, relativamente a quem a máquina conceptual humana não pode senão vacilar e hesitar. Trata-se, portanto, de um debate especulativo que, ab initio, se sabe falhado, mas que, decidindo-se fazê-lo, por isso mesmo se torna tanto mais pertinente, imprescindível e rigoroso, ancorado na mestria de uma linguagem e argumentação que, quanto mais eloquentes, mais revelam o homem que se digladia com o seu lugar de homem que pensa aqui e agora.
No caso do Livro XI, Agostinho debate-se com duas questões que relaciona entre si: que momento é esse que reúne e contém todos os tempos e coisas e se condensa no ato da criação e que coisa é o tempo. Independentemente das respostas a esta demanda, o que emerge do texto do autor é a progressão de um discurso cuja coerência e beleza advêm não tanto do seu caráter sistemático, mas de uma metodologia da hesitação que não abdica de se colocar novas interrogações, quando parece ter atingido o consolo hermenêutico de uma verdade. Afinal, não podia ser de outro modo e Agostinho está bem consciente de que sermos Prometeu é a maior das ilusões e das faltas.
Livro XI das Confissões de Santo Agostinho
JEAN PAUL BUCCHIERI28 junho a 5 julho
terça a sábado, 19h30; domingo, 16h
Sala Mário Viegas
€12 (com descontos)
A classificar pela CCE
Descrição
Ficha Técnica
Encenação, Desenho de Luz e Figurinos Jean Paul Bucchieri Com Cláudio da Silva, João Lagarto, Maria Arriaga e Pedro Lacerda Dramaturgia David Antunes Cenografia Pedro Lagrifa Oliveira Assistente de Cenografia Fábio Silva e Ricardo Ferreira Apoio e residência artística Ajidanha, Teatro Estúdio São Veiga, Idanha-a-Nova Coprodução Horta Seca e São Luiz Teatro Municipal