Numa altura em que nos espectáculos e performances se valoriza tudo o que seja light e suave, O Assobio da Cobra pretende ser uma viagem teatral e musical a um mundo de cores carregadas e sentimentos fortes. A um universo de autenticidade – com menos máscaras do que feridas abertas.
É uma viagem ao fim da noite, com as suas personagens inequívocas (um sabedor e metafórico homem do balcão, um pintas que se transmuda na mais bonita das mulheres, um cómico incapaz de fazer rir os outros, uma mulher que transporta no ventre um filho e um ninho de incertezas, etc.), interpretadas por um naipe invejável de actores.
O local onde se encontram todas estas personagens é uma espécie de bar/cabaret, mas podia muito bem ser um navio – um navio que naufragou e dentro do qual um conjunto de “marinheiros” de diferentes histórias e situações-limite cruza solidões e tragédias.
O Assobio da Cobra balança sempre entre a crueza e a crueldade das relações de fim de noite e a poesia e a humanidade que, aqui e ali, as atravessam. Para a dimensão poética e onírica do espectáculo contribuirão fortemente a música de Manuel Paulo e as letras de João Monge, tal como a encenação de Adriano Luz e as coreografias de Marta Lapa.
Nuno Costa Santos