Depois de Banda Sonora e A Reconquista de Olivenza, o dramaturgo e encenador Ricardo Neves-Neves e o pianista e compositor Filipe Raposo voltam a encontrar-se e a juntar-se à Orquestra Metropolitana de Lisboa em O Livro de Pantagruel. Uma vez mais, criam um universo de fantasia, cheio de delírios e extravagâncias, de humor negro e de muitas outras tonalidades. É sobre canibalismo, este espetáculo, literal ou nem por isso. E sobre a manipulação do corpo humano e a manipulação do outro. É sobre vingança e sobre amor, por mais cruel que ele possa ser. Não falta traição a este enredo, mas também há bastante romantismo. Com inspiração em histórias como as de Gargântua e Pantagruel, Hansel e Gretel, Sweeney Todd, Drácula, Frankenstein e tantos outros, a cena enche-se de pequenos e grandes monstros tão divertidos como assustadores: uma Pantagruel de saltos altos, baton vermelho e cabelo armado, um jovem Nosferatu em estágio profissional, um Hansel rockabilly e uma Gretel pronta para jogos de sobrevivência, um lobo com instintos mortais e paternais, dois fetos de gémeos com memórias de vidas passadas na Euribor… Pelo caminho, dão-se receitas para a confeção de marujos e moralistas em princípio de carreira, de punhos de sindicalista, de ervilhas com olhos escalfados e de outras iguarias canibais que tais. É tempo de devoração e degustação, deglutição e digestão. A refeição está servida, bom apetite.