Não há duas pessoas que tenham o mesmo ponto de partida para chegar a meta equivalente – e o que para uns é desequilíbrio, para outros pode ser fosso ou abismo. Partindo desta premissa, e da profunda necessidade de passar da reflexão à ação, torna-se importante pensar na representatividade e na acessibilidade dos públicos nas artes performativas. Vale a pena questionar se o lugar de visibilidade na criação artística pode ser a chave para trazer à plateia grupos populacionais que habitualmente dela estão arredados, encontrando no processo de “identificação” o motor de criação de novos públicos e a formação do gosto pelas artes performativas. No entanto, até no ato de dar visibilidade se encontra a face do privilégio de quem chegou primeiro à meta, detém a voz e a pode ceder. Como se pode pensar então a verdadeira inclusão de quem está, estruturalmente e há demasiado tempo, excluído tanto dos palcos como das plateias, com o acesso condicionado ao sabor de uma sociedade injusta e de uma democracia ainda imperfeita?
A representatividade e a acessibilidade das “margens” à Cultura que está no “centro” é o ponto de partida para uma conversa com criadores e programadores sobre as pessoas que poderiam estar nos vários lugares de uma sala de Teatro, mas cujo caminho ainda se encontra carregado de obstáculos – físicos e sociais. As “margens” e o “centro” não opõem apenas a periferia e o coração da cidade, o interior e o litoral… Fala-se de maiorias e minorias (étnicas, sexuais, de género…), de corpos não normativos, de pessoas com deficiência, de todo o tipo de exclusões que afastam de um local que devia ser inteiramente livre: a sala de espetáculos. Neste caminho que o São Luiz pretende percorrer, pergunta aos criadores e aos programadores: Qual o lugar dos públicos no vosso trabalho? Como pensam as identidades numa sociedade pulverizada como a nossa?