Em Quarta-Feira: O tempo das cerejas, o terceiro episódio do ciclo Sete Anos Sete Peças, Cláudia Dias partilha o palco com Igor Gandra, diretor artístico do Teatro de Ferro. O cenário é um enorme buraco no meio de placas de gesso laminado, como se uma bola de ferro gigante tivesse caído ali. Ao construir o espaço cénico com o mesmo material usado em milhares de casas portuguesas, para se começar a desconstruir, Cláudia Dias e Igor Gandra fazem uma ligação direta a tudo o que é varrido para baixo do tapete ocidental. Apesar de os bombardeamentos aéreos por parte de forças militares europeias serem hoje facilmente visionáveis na Internet ou na TV, a ligação entre os nossos lares e as crateras abertas por mísseis noutro lado do mundo não é tão visível assim. Este buraco negro alude a essa relação causal por esclarecer. Não se trata apenas de mostrar a responsabilidade das sociais-democracias europeias nos massacres que estão a ocorrer agora no resto do mundo. O olho negro no meio do chão é uma imagem de sinal negativo que nos revela o que está por fazer.
No Teatro São Luiz, Cláudia Dias apresenta os cinco espetáculos do seu projeto Sete Anos Sete Peças, iniciado em 2016. Cada espetáculo, concebido com um parceiro ou parceira artística diferente, leva o nome de um dos dias da semana, seguido de um subtítulo, e faz a ligação entre artistas, pensadores, países e cidades, passado, futuro e presente, arte e ação política. O todo é maior que a soma das partes. Seguir cada peça e acompanhar a sequência é uma experiência diferente de ver cada uma delas, isolada ou alternadamente. Cinco peças mais uma, essa formada pelo todo; ou ainda inúmeras outras, resultantes das várias combinações possíveis e da coleção particular que cada um queira e possa fazer. No São Luiz, os espetáculos complementam-se com um ciclo de conversas e uma oficina do ilustrador António Jorge Gonçalves, responsável pelo desenho e grafismo dos livros deste projeto.
Conversas Dias Úteis – A arte do fim
Moderadora: Catarina Pires
Artista: Igor Gandra
Convidados: Ricardo Paes Mamede e Gaia Giuliani
Quarta-feira põe passado e futuro em confronto, debaixo da terra/palco, onde os artistas mineiros, operários, escavadores, arqueólogos, sabe-se lá, escavam o passado e projetam o que poderia ser um futuro que muitos têm dificuldade de imaginar. Entre o fim do mundo e o fim do capitalismo, há dúvidas sobre a escolha a fazer? Parecendo que não, há. Porquê? É isso que vamos tentar perceber, ao mesmo tempo que questionamos o papel da arte e dos artistas no imaginar – e desenhar – desse futuro, com o artista Igor Gandra e as pessoas convidadas.
O Teatro São Luiz informa que as conversas após espetáculos serão gravadas para posterior transmissão online.