A voz de Ana Luísa Amaral ensina a quem a recebe o fascínio pelas coisas dos dias, pela reflexão possível delas. Ser ou escrever sobre se ser? Apanhar os cacos ou escrever de longe, à distância, sobre o desastre, sobre a infância, sobre Londres, sobre a casa vazia. A sua escrita madrugadora e insone é uma lente acutilante de observação humana, tornada palpável a cada folha. Quatro mulheres-de-teatro, que conhecem no corpo o que dizem essas folhas, vão poder sentar-se dentro dos poemas, ao lado da gata de Ana, da filha de Ana, dos livros na mesa de Ana, arrumando a cozinha de Ana, olhando para Ana que olha para elas.
Foi em 2016 que Sara Carinhas organizou o Ciclo de Leituras Encenadas no antigo Jardim de Inverno, onde se ouviram excertos de obras de Herberto Hélder, José Tolentino Mendonça, Luísa Costa Gomes, Maria Velho da Costa e Matilde Campilho. Uma vez por mês, ao fim da tarde, intérpretes e público partilharam palavras em português a diferentes vozes. Quatro anos depois, a Sala Bernardo Sassetti recebe o Um Quarto que Seja Delas – Segundo Ciclo de Leituras Encenadas, com cinco sessões a decorrer entre setembro de 2020 e janeiro de 2021. Uma proposta que conta com mais de vinte mulheres, entre autoras, atrizes e equipa artística. “Continuamos a demanda da partilha da literatura e do teatro dos pequenos gestos que as palavras pedem”, diz Sara Carinhas.